Colesterol Alto Faz Bem – A Verdade Por Trás do Mito
Colesterol – Essencial à vida!
O corpo humano é capaz de produzir cerca de 80% do colesterol que utilizamos. Ele é sintetizado por todos os nossos tecidos, sendo o fígado, intestino, córtex adrenal e tecidos reprodutivos (incluindo ovários, testículos e placenta), os maiores produtores.
O colesterol funciona como precursor dos ácidos biliares, dos hormônios esteroides, da vitamina D, entre outros componentes essenciais à nossa saúde e equilíbrio.
Então, como começou esse mito do colesterol alto e ingestão de gordura?
Na década de 50, foi feita uma comparação entre taxas de gordura ingerida e mortalidade por doença cardíaca em sete países: Estados Unidos, Canadá, Austrália, Inglaterra, País de Gales, Itália e Japão.
Ancel Keys encontrou a seguinte correlação:
- Estados Unidos: comia mais gordura e tinha mais morte cardíaca;
- Japão: comia menos gordura e tinha menos morte cardíaca.
No entanto, em três países (Finlândia, Grécia e Iugoslávia) a correlação não era percebida. A Finlândia oriental teria cinco vezes mais ataques fatais e duas vezes mais doenças do coração que a Finlândia ocidental.
Infelizmente, 30 anos de educação nutricional e orientação alimentar foram baseadas nesse estudo, e estamos pagando o preço até hoje.
Correlação não significa necessariamente causalidade! A adoção do mito do colesterol pelas principais organizações e pelo governo tiveram um componente político importante.
Surgiu, então, a epidemia da diabesidade (o termo diabesidade faz referência à manifestação simultânea da obesidade abdominal e do diabetes tipo 2. A diabesidade está em curso acelerado no Brasil e no mundo, e não está associada à um agente transmissor sozinho, mas sim à um estilo de vida estressante, sedentário e de má qualidade alimentar).
A fobia pela gordura desencadeou um consumo desenfreado de carboidratos refinados e cereais. Em 1977, o congresso americano instituiu uma política governamental para recomendar uma dieta pobre em gordura, e foi criticado pela comunidade científica e pela Associação Médica Americana.
E o que seria o colesterol? Uma gordura? Não!
Vamos à definição de colesterol: álcool policíclico de cadeia longa, considerado um esteróide, encontrado nas membranas celulares e transportado no plasma sanguíneo de todos os animais.
É um componente essencial às membranas celulares dos mamíferos, e é o principal esterol sintetizado pelos animais. O colesterol é um lípide (significa que não dissolve em água). Nem todo lípide é gordura. Ou seja, colesterol não é gordura!
Os elementos presentes em sua fórmula química são o carbono, o oxigênio e o hidrogênio.
Será que um nutriente tão importante à vida humana como o colesterol pode ser o vilão da saúde, como foi considerado por muitos anos?
Ele participa na fabricação dos sais biliares, ajudando na digestão e absorção de gorduras essenciais, tem importância no metabolismo das vitaminas lipossolúveis (A,D,E,K), é o principal precursor de vários hormônios esteróides (cortisol, aldosterona, progesterona, estrógenos, testosterona), constituinte fundamental da bainha de mielina (relação com doenças neurodegenerativas), necessário para os processos de defesa do sistema imunológico (circulação dos linfócitos T e B, células Natural Killers).
O consumo de colesterol não causa doenças cardíacas. O colesterol é essencial para o bom funcionamento do organismo, que se utiliza dele para produzir hormônios, manter a saúde intestinal e reparar células danificadas.
Então, vamos aos estudos com evidências científicas realizados com o intuito de reafirmar o colesterol como vilão:
Os primeiros quatro ensaios clínicos (Honolulu, Porto Rico, Chicago e Framingham), compararam incidência de doença cardíaca X dieta baixa em gordura e alta em carboidrato: nenhum benefício foi encontrado!
Uma meta análise feita pelo grupo Cochrane Collaboration concluiu que as dietas baixas em gorduras saturadas não tinham qualquer efeito significativo na mortalidade total ou mesmo na mortalidade cardíaca. Dr. Michael DeBakey, em 1964, estudou 1.700 pacientes com aneurisma de aorta, e não encontrou nenhuma relação entre os níveis de colesterol sanguíneo e a incidência de aterosclerose.
Um estudo feito na Índia, em 1968, revelou que as pessoas do norte consomem 17 vezes mais gordura animal, porém apresentam uma incidência de doenças cardíacas/coronarianas sete vezes menor que as do sul.
Outro, feito no povo longevo da Georgia, revelou que os que ingeriam os alimentos mais gordurosos, eram os que viviam mais tempo.
O maior estudo realizado até hoje, Women´s Health Initiative, com 49.000 mulheres entre 50-79 anos, durante oito anos, concluiu: dieta baixa em gordura não diminui o risco de doença cardíaca.
Em 2010, Ronald Krauss verificou que dieta rica em gordura aumenta a forma benigna do LDL, e carboidratos refinados aumentam a forma maligna.
O estudo de Framingham, após 40 anos de follow-up, concluiu:
“Quanto mais gordura saturada, mais colesterol e mais calorias alguém ingere, mais baixo é o nível de colesterol no sangue da pessoa. Constatamos que as pessoas que ingeriam mais colesterol, mais gordura saturada, e mais calorias, eram os que pesavam menos e eram fisicamente mais ativos.”
Minha intenção, através destas informações, é desfazer o mito do colesterol, alertando para os malefícios que esse equívoco trouxe para a saúde da população. Já mostrei o quanto o colesterol é “mocinho” e essencial à vida humana!
Em 1950, houve um disparo no número de mortes por infarto agudo do miocárdio. Interessante, que esta data marca a inversão no consumo entre manteiga (gordura animal, gordura boa) e margarina (gordura vegetal, gordura trans), que disparou a partir de 1950! O “bandido” da saúde, na verdade, é o açúcar (carboidratos), que infelizmente teve seu consumo liberado e estimulado, em contraposição à gordura animal.
Não tenha medo de se alimentar de gorduras boas! A grande verdade é que colesterol faz bem sim! Alguns nutrientes são essenciais à vida humana, e precisam ser ingeridos, pois nosso corpo não é capaz de produzir.
Existem aminoácidos essenciais (matéria prima para proteína) e ácidos graxos essências (gordura).
Mas não existe carboidrato essencial!!!
O baixo consumo de gordura saturada é prejudicial ao nosso sistema neurológico, tornando os indivíduos mais suscetíveis a desenvolverem transtornos mentais.
O consumo de colesterol não reflete os níveis de colesterol sanguíneos.
Certamente, o prejuízo à saúde causado pelo colesterol é maior quando há deficiência e ou bloqueio de sua produção!
Dra Letícia Fontes – Medicina Preventiva e Nutrologia